O desaquecimento da economia brasileira motivado pela crise econômica tem emperrado as negociações salariais e assombrado categorias, que não têm conseguido nada além da reposição da inflação.
O atual cenário econômico também tem sido usado como alegação para que as montadoras brasileiras enxuguem seu quadro de funcionários, promovendo uma onda de demissões em massa ou no mínimo adotando instrumentos como férias coletivas, banco de horas ou o lay off, que é a suspensão temporária do contrato de trabalho.
No entanto, esse cenário sombrio tem sido contornado com sucessivas vitórias pelo Sindicato dos Metalúrgicos de Camaçari, que nos últimos meses conseguiu garantir o retorno de mais de 800 funcionários e funcionárias em lay-off ao trabalho.
Com 11 mil trabalhadores em sua base, o presidente do Sindicato, Júlio de Bonfim, comemora o saldo com a manutenção dos empregos e o balanço financeiro positivo, que só em 2016 pode ter alcançado a soma de 270 milhões de reais.
“Nenhuma outra base do país conseguiu manter os empregos como nós conseguimos. Ao contrário, trabalhadores de diversas categorias sofreram com desemprego em massa e corte de direitos. Por isso, aqui em Camaçari o sentimento é de vitória e superação, mesmo diante de uma grave crise econômica”, diz Bonfim.
“Assim como no ano passado, em 2017 a luta pela empregabilidade no Complexo Ford segue sendo prioridade para a gestão da entidade”.
Para ele, o resultado é fruto de muita luta, consciência sindical e proximidade com a categoria. Na opinião de Bonfim, o sindicalista não pode se esquecer que o seu papel é estar no chão da fábrica para conhecer a realidade do trabalhador e lutar por seus direitos. E por isto mesmo, Bonfim está esta semana na cidade mineira de Betim, apoiando a Chapa 1 - Garra Metalúrgica nas eleições do sindicato dos metalúrgicos da região nos próximos dias 1, 2 e 3. De lá, ele concedeu a seguinte entrevista ao Portal CTB:
O país atravessa uma momento de crise econômica com demissões. No entanto, ao longo dos meses dos últimos meses, a Ford foi única montadora do país que não demitiu em massa. Qual o papel do Sindicato nesse cenário?
Desempenhamos o nosso papel. Sabemos que a crise é um fator determinante, mas conseguimos cumprir nosso papel de Sindicato na defesa dos direitos dos trabalhadores e conseguimos avançar. Realizamos um trabalhado de base e tudo isso é fruto de uma parceria com a categoria. Houve um posicionamento do sindicato. A empresa sabe o tipo de trabalho que realizamos aqui em Camaçari. Se falamos que vamos fazer, é porque faremos. Assim conseguimos construir uma trajetória de credibilidade com a empresa e a categoria. Realizamos um trabalho com a base. Estamos no chão da fábrica junto com o trabalhador. Por vezes os sindicalistas perdem isso de vista. Perdem a oportunidade de estar ao lado da base, o que dificulta fazer o trabalho sindical.
Quantos empregos foram salvos nos últimos meses?
Diretos foram cerca de mil empregos, que indiretamente podem ser multiplicados por três com a cadeia ligada ao segmento. Porque quando a empresa implantou o lay off nós avisamos aos trabalhadores que não aceitaríamos demissões. E durante esse período não deixamos de estar na base. Toda semana estávamos lá garantindo direitos.
Qual o impacto que isso traz para a economia local?
Para se ter uma ideia o comércio de Camaçari caiu em torno de 60% com o fim do terceiro turno. Para você ter uma ideia do impacto de um turno da economia local.
Nenhum outro sindicato do Brasil alcançou tantas conquistas, como garantia de empregos, reajuste de salários e benefícios como o Sindicato dos Metalúrgicos de Camaçari. Qual o balanço que você faz?
Em torno de 1.5 bilhão só de acordos coletivos sem contar os salários. O PLR (programa de Participação nos Lucros e Resultados) fechou em 17.850 abono de 3,6 mil, de ticket refeição 3 mil. Multiplica esse montante por 11 mil funcionários, ou seja, só no ano passado esse cálculo dá cerca de 270 milhões. Isso só em 2016. Se você somar os acordos coletivos desde 2002 ultrapassa os 2 bilhões.
O que representa esta vitória para a categoria?
Com certeza hoje somos referência nacional no setor. Nenhuma outra base do país conseguiu manter os empregos como nós conseguimos. Ao contrário, trabalhadores de diversas categorias sofreram com desemprego em massa e corte de direitos. Alguns sindicatos estão enfrentando os PDVs (Planos de Demissão Voluntária) e fechando acordos com congelamento salarial de 6 anos. Se você pegar nosso acordo que teve aumento salarial em benefícios e salários, isso se torno referência com valores extremamente altos comparados aos demais.
E a partir de agora, com um cenário político desfavorável e um congresso ultraconservador. Quais os desafios para continuar garantindo os direitos dos trabalhadores?
Assim como no ano passado, em 2017 a luta pela empregabilidade no Complexo Ford segue sendo prioridade para a gestão da entidade. Mas no panorama do conjunto da classe trabalhadora acho que estamos num labirinto para encontrar uma saída e para isso temos que ter unidade dentro do movimento. Temos que ser companheiros de luta, pela causa e contra a direita. Você pode ver pela situação que estamos enfrentando nas eleições aqui em Betim onde estou para ajudar os companheiros. Estamos enfrentando um banditismo dentro do próprio movimento. Por isso, precisamos mudar nossas atitudes e nossa postura, para conseguir mudar essa situação.